Set Interior

O Set de Interiores já estava mais do que pronto. Algumas das pessoas já estavam a trabalhar e, apesar de tudo, ainda se viraram quando cheguei, acenando-me e dizendo um breve "Olá, Kris!". Cada cara que me olhava mudava de expressão logo de seguida. Não sabia dizer porque as pessoas me olhavam daquela forma particularmente especial naquela manhã, mas ao certo seria das olheiras que eu ostentava em bruto.
Tirei o guião de dentro da mochila e comecei a ler.

Tirei a atenção do guião mal senti os passos dele virem na minha direcção. Como se eu me conseguisse concentrar com ele ao pé de mim. Que raiva!
O que raio tinha este inglês imbecil para me deixar assim desconcertada? Que raio tinha ele de especial para me roubar a atenção e me fazer ter pensamentos destes, sonhos destes?
Enfim...
Mantive os olhos firmes no papel à minha frente, mas resolvi, pelo menos, cumprimentá-lo.
- Ao menos um bom dia!
E sim, eu estava determinantemente mal humorada, hoje de manhã.

Ena, que perspicaz! Será que se notava muito? Além do meu namorado não me atender o telemóvel, eu não conseguia tirar outra pessoa da cabeça. Aliás... Achava eu que Michael ainda era o meu namorado! Pelo menos, era algo que eu ainda o considerava. Só não sabia se esse sentimento era mútuo depois da nossa última discussão.
- Devias ser filósofo. Tens jeito para perguntas de retórica.
Disse, simplesmente.

Arqueei as sobrancelhas na sua direcção.
- Poupa-me, Robert, nem tu és o Edward nem eu a Bella, a não ser no guião! Essa coisa de tu me "leres" muito bem é uma grande e boa treta!
Levantei-me do meu lugar e voltei a pôr as folhas na minha mochila.

Oh, sim, eu vou mesmo dizer-lhe! Era precisamente a ele que eu ia contar que estava a meio de uma crise com o meu namorado porque me estava a apaixonar por um dos meus colegas de trabalho que, muito convenientemente, tinha o seu nome. Existem muitas coincidências neste mundo mas essa seria obra!
- É preciso mandar-te ou tu sabes o caminho para aquele sítio?

Olhei para as mãos e suspirei, antes de mandar um murro na mochila, furiosa. Pu-la às costas e passei por ele para ir para outro canto do Set. Quanto mais longe o visse de mim melhor. Pelo menos, não me dava para perder tempo a pensar em parvoíces.
Ainda martelava na minha cabeça a razão pela qual eu e Michael havíamos discutido. A mesma razão que, nos últimos dois meses da minha vida, havia surgido anexada em revistas. À força, todo o mundo queria um relacionamento plantado entre mim e Robert. E nem sequer se importavam se eu o amava ou não, isso nem sequer tinha importância. Apenas queriam ter algo que vender mas comigo estavam enganados. Eu não me vendia. Por nada! E, no que dependesse de mim, o novo termo Robsten não passaria da ficção para a realidade.

Fui-me pôr sozinha a um canto, como já era meu hábito. Não que não gostasse da companhia dos outros, mas ele estava lá. E estar perto dele era algo que me fazia mal, cada dia que passava em maior quantidade.
Os meus olhos caíram no guião de novo, apesar de eu já ter mais do que decoradas as últimas frases da Bella naquela cena do baile de finalistas. Que raio de cena que me havia de dar para estar a decorar, também! Mas será que não havia nada a meu favor, ultimamente?

Bufei de irritação pela 16ª vez nos últimos dois minutos, antes de o encarar.
- Não tens mesmo amor à vida, pois não?
Tudo o que eu tinha, naquele instante, era vontade de lhe atirar com o molho das folhas acima! Mesmo tendo toda aquela gente por ali, à nossa volta. Podia ser que, assim, finalmente parassem de me apontar o dedo e dizer que eu ficava bem quando estava ao pé dele. Urgh!

Fui direita a ele sempre com uma expressão séria e empurrei-o, explodindo em lágrimas de raiva, de repente. Numa tentativa desesperada que ninguém me visse naquele estado miserável irrompi caminho para o meu camarim, sem sequer me importar se Robert havia reparado no estado em que eu ficara ou não.